Desaparecer da própria vida profissional é uma vontade silenciosa que, às vezes, visita até quem ama profundamente o que faz. Em primeiro lugar, não se trata apenas de cansaço físico. Trata-se de uma exaustão emocional tão profunda que o simples ato de continuar parece um esforço desumano.
Tem dias em que não se quer mais ser a profissional exemplar, nem atender mais ninguém, nem receber mais elogios — porque tudo isso já não faz mais sentido. A vontade é de desligar o telefone, deixar as mensagens sem resposta e sumir um pouco do mundo, sem avisar.
Quando o sucesso pesa mais do que fortalece
Mesmo os maiores sonhos, quando sustentados sem pausa, podem se transformar em prisões. Ou seja, até o trabalho mais vocacional pode perder o brilho quando exige mais do que o corpo e a alma conseguem oferecer.
Por exemplo, a reunião mais bonita pode soar vazia, o reconhecimento mais sincero pode parecer ironia, e o domingo à noite pode se tornar o gatilho de uma angústia silenciosa. O corpo até aparece, mas a mente… essa já foi embora faz tempo.
Esses são sinais claros de um sistema em colapso emocional. E o mais difícil? É que ninguém vê. Afinal, a frustração não grita — ela se acumula em silêncios, em renúncias pequenas e diárias, em sorrisos automáticos que escondem a vontade de sumir.
O que a neuropsicologia nos revela sobre essa necessidade de desaparecer e esgotamento?
A neuropsicologia explica que, em momentos de exaustão extrema, o cérebro entra em modo de autoproteção. O sistema límbico, liderado pela amígdala cerebral, identifica a rotina como uma ameaça e envia sinais para fugir, se esconder, desistir. Não é sabotagem — é sobrevivência.
Isso significa que aquele desejo de sumir não é fraqueza, mas um pedido urgente de socorro. Um sinal de que o corpo e a mente estão tentando proteger você de um ambiente percebido como hostil, mesmo que seja feito de coisas que você escolheu.
Por isso, quando tudo grita por fuga, é hora de ouvir com mais atenção. Não com julgamento, mas com acolhimento. Com o neocórtex — nossa parte mais racional — ajudando a nomear sentimentos, construir pausas, redefinir limites.
Quando desaparecer parece solução, talvez o que falta seja escuta
Sumir pode parecer a única saída quando ninguém escuta. Mas e se você escutasse a si mesma? Talvez o que o corpo esteja pedindo não seja desistência, mas descanso. Não abandono, mas reconexão.
Em outras palavras, talvez não seja sobre largar tudo, mas sobre sair do automático. Sobre parar de ser forte o tempo inteiro. Sobre lembrar por que você começou — e se ainda faz sentido continuar do mesmo jeito.
A verdade é que você não precisa provar nada para ninguém. E esse pode ser o início de uma nova forma de existir: com mais verdade, menos expectativa. Com mais pausa, menos culpa.
Como a terapia pode ajudar a recuperar o próprio lugar na vida?
Terapias como a Cognitivo-Comportamental, quando combinadas com abordagens como EMDR e Brainspotting, oferecem caminhos eficazes e profundos para quem sente que sumiu da própria vida. De maneira sutil, elas ajudam a identificar o que está por trás do esgotamento, ressignificar vivências dolorosas e reconstruir, aos poucos, uma relação mais honesta com os próprios limites.
Enquanto a TCC ajuda a reestruturar pensamentos que alimentam a autocobrança, o EMDR e o Brainspotting acessam camadas emocionais profundas, permitindo que o sistema nervoso volte ao estado de segurança e presença.
Dessa forma, o que parecia o fim pode se tornar um recomeço — mais leve, mais consciente e, principalmente, mais verdadeiro.
E se o maior ato de coragem for ao invés de desaparecer, simplesmente continuar?
Se hoje você sente vontade de desaparecer, talvez isso não signifique que algo está errado com você. Talvez apenas indique que você está cansada demais de ser o que esperam. E que seja tempo de ser o que sente.
Por fim, se for para largar tudo, que não seja sua saúde mental. Que não seja sua capacidade de sentir, de respirar, de recomeçar com gentileza. Que você possa, sim, sumir por um tempo — mas só para voltar mais inteira.
Sou Betila Lima – Psicóloga
Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.
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