Como lidar com a morte de quem amamos é uma pergunta que atravessa a todos nós, mais cedo ou mais tarde. A princípio, essa realidade pode parecer fria, distante, quase insuportável. Contudo, ela também pode se revelar como um dos maiores convites à presença, à compaixão e ao amor verdadeiro.
A história de Ana — uma mulher de 42 anos que acompanha a mãe em cuidados paliativos — exemplifica isso com uma intensidade que palavras mal conseguem conter. Em meio a sondas, remédios e despedidas silenciosas, ela aprendeu que a morte não é apenas um fim, mas um lembrete urgente de que o tempo é finito. E que, portanto, o agora é tudo o que realmente temos.

O que é o luto antecipado e por que ele nos transforma?
O luto antecipado é o processo emocional de começar a se despedir antes da perda definitiva. Ainda mais doloroso em alguns casos, ele envolve sentimentos profundos de impotência, tristeza, amor e até culpa. Afinal, saber que alguém que amamos está partindo nos obriga a olhar para a finitude da vida com honestidade brutal.
No entanto, esse processo também pode ser transformador. Ao viver o luto antecipado, aprendemos a valorizar os momentos presentes, a perdoar mais rápido e a amar com mais entrega. Ana entendeu isso. Por isso, mesmo quando as palavras são poucas, ela senta ao lado da mãe, oferece a escuta e compartilha silêncios que também são forma de cuidado.
Como a consciência da morte pode nos ensinar a viver melhor?
A consciência da morte nos coloca frente ao que realmente importa. Em outras palavras, quando entendemos que tudo tem um fim, deixamos de adiar o essencial. Isso significa que os “eu te amo” não devem morrer na garganta, que os abraços não podem ser deixados para depois e que a vida merece ser vivida com mais inteireza.
Ou seja, viver com a presença de que um dia tudo se encerrará pode ser, paradoxalmente, a chave para viver com mais leveza, conexão e verdade. Assim como Ana, que não espera mais datas especiais para demonstrar afeto, muitos que passam por experiências de perda relatam esse despertar profundo.
O que a neuropsicologia nos diz sobre a dor da perda?
A neuropsicologia aponta que o luto ativa áreas do cérebro associadas à dor física, especialmente o córtex cingulado anterior. Isso explica por que muitas pessoas relatam dores no peito, fadiga extrema ou insônia durante processos de luto — o cérebro realmente interpreta a ausência como uma ferida real.
Além disso, estudos indicam que a prática da atenção plena e do autocuidado ajudam a modular essas reações cerebrais. A presença amorosa, o toque, a escuta e até o choro sincero são, neurologicamente falando, reparadores.
Como isso é trabalhado na terapia cognitivo-comportamental?
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda a organizar pensamentos e emoções diante da perda. Frequentemente, ela trabalha com a reestruturação de crenças limitantes como “nunca mais serei feliz” ou “não consigo viver sem essa pessoa”.
Por meio de técnicas práticas e acolhedoras, o paciente é incentivado a resgatar memórias positivas, desenvolver rituais de despedida e reintegrar o luto de forma saudável à sua biografia. Isso não significa esquecer, mas aprender a conviver com a ausência sem se perder de si mesmo.
Por que contextos traumáticos reativam dores antigas?
Em momentos de perda, o cérebro pode ativar registros emocionais de traumas passados. Por exemplo, quem viveu abandono na infância pode sentir a perda de um ente querido de maneira ainda mais intensa, como se fosse uma repetição de antigas feridas.
Devido a isso, é comum que contextos de finitude despertem crises existenciais, ansiedade ou sintomas depressivos. Reconhecer essas conexões é essencial para evitar que a dor se acumule e paralise. Por isso, procurar ajuda psicológica nesse momento é um gesto de amor-próprio.
Qual o papel da terapia combinada com EMDR e Brainspotting nesse processo?
A combinação da TCC com abordagens como EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares) e Brainspotting tem se mostrado extremamente eficaz em casos de luto complexo ou dor emocional profunda. Essas técnicas acessam memórias traumáticas que, muitas vezes, estão além da linguagem, permitindo que o cérebro reprocesse essas vivências de forma segura e integradora.
Estudos recentes de neurociência mostram que essas abordagens ativam redes neurais ligadas à regulação emocional e promovem um reequilíbrio fisiológico do sistema nervoso. Isso significa que não apenas ajudam a lidar com a dor, mas também fortalecem os recursos internos para viver o presente com mais clareza e força.
Qual é a maior lição que a vida pode nos ensinar sobre a morte?
A maior lição que a vida pode nos ensinar sobre a morte é que não temos tempo a perder. Em síntese, a morte nos ensina a viver — com mais presença, mais entrega e menos reservas. Ela revela o que é essencial e nos convida, com firmeza, a sermos inteiros agora.
Definitivamente, não precisamos esperar o último suspiro para dizer o que sentimos, perdoar o que machucou ou agradecer o que foi vivido. Ana compreendeu isso e, com coragem, transformou a despedida em um ato de amor profundo. E isso muda tudo.
Por fim, se o medo vier — tudo bem. Ele também é sinal de que ainda estamos aqui. E estar aqui, com tudo o que isso significa, é o maior presente que a vida nos dá.
Sou Betila Lima – Psicóloga
Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.
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