Ciúmes é prova de amor? Uma emoção contraditória que escancara o que tentamos esconder

Ciúmes é prova de amor? Uma emoção contraditória que escancara o que tentamos esconder

Ciúmes é prova de amor? Durante muito tempo, a resposta social a essa pergunta foi “sim”. A princípio, o ciúme era até incentivado, como se fosse um selo de validação afetiva, uma maneira de demonstrar que alguém importa. Era comum ouvir frases como “quem ama, cuida” ou “sente ciúmes porque se importa”. Contudo, o que raramente se dizia é que esse “cuidar” muitas vezes dói. E que o ciúme pode ser, antes de tudo, um sinal de descontrole emocional disfarçado de romantismo.

Ou seja, o ciúme foi romantizado por gerações, mas segue sendo um dos sentimentos mais dolorosos e silenciados da vida afetiva. Um paradoxo vivo.

Por que o ciúme foi valorizado por tanto tempo?

Culturalmente, o ciúme foi tratado como virtude. Em outras palavras, aprenderam-nos a vê-lo como parte natural — e até desejável — das relações. Muitos cresceram ouvindo que o parceiro que sente ciúmes “gosta mais”. Isso foi ainda mais forte nos relacionamentos antigos, onde o controle era confundido com zelo e o afeto se media por proibições e vigilância.

Ainda mais complexo, esse tipo de ideia reforçou padrões de dependência emocional e invisibilizou o sofrimento real causado por esse sentimento. Dessa forma, muitas pessoas se tornaram menos livres emocionalmente e mais condicionadas a aceitar o ciúmes como sinal de segurança, e não de desequilíbrio.

O que torna o ciúme tão contraditório?

O ciúme é uma fantasia. Mas isso não quer dizer que ele não seja real. Ele é. Para quem sente, ele é físico, concreto, às vezes insuportável. Pode gerar sintomas como taquicardia, pensamento obsessivo, angústia, raiva. O corpo sente. A mente cria histórias. A emoção se impõe.

Por outro lado, o ciúme nasce de hipóteses, de projeções — raramente de fatos. Isso significa que ele é também um produto da imaginação. E aí está o grande contrassenso: ele nos consome como se fosse uma verdade, mesmo quando nasce de dúvidas ou medos não confirmados.

Por que silenciamos o ciúme que sentimos?

Socialmente, o ciúme passou a ser visto como algo feio. Principalmente para as mulheres. Enquanto por muito tempo os homens foram estimulados a expressá-lo como forma de autoridade ou “instinto protetor”, as mulheres foram ensinadas a reprimi-lo. Dizer que estava com ciúmes virou sinônimo de fraqueza, drama ou insegurança.

Como resultado, muita gente sofre calada. Roendo azulejos por dentro, como você bem disse, mas sorrindo por fora para não parecer “descontrolada”. Isso gera uma experiência emocional solitária, na qual o indivíduo não sabe se pode confiar no que sente — ou se é mesmo permitido sentir.

O que a neuropsicologia nos diz sobre o ciúme?

A neuropsicologia mostra que o ciúme envolve diversas áreas do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal (responsável pelo raciocínio), a amígdala (relacionada ao medo) e o núcleo accumbens (ligado à recompensa e ao prazer). Isso revela que o ciúme, neurologicamente, é um sentimento que mistura amor, insegurança e ameaça.

Além disso, pesquisas apontam que pessoas com histórico de rejeição, abandono ou baixa autoestima tendem a experimentar o ciúme com maior intensidade. Isso não significa que elas “amam mais”, mas sim que sua estrutura emocional é mais sensível à percepção de perda.

Como isso é trabalhado na terapia cognitivo-comportamental?

Na TCC, o ciúme é compreendido como um conjunto de pensamentos automáticos distorcidos que geram reações emocionais e comportamentais intensas. Por exemplo: “Ele está olhando para outra pessoa porque não me ama mais”. Esse tipo de pensamento, quando não investigado, alimenta sentimentos de raiva, tristeza e atitudes controladoras.

Por isso, a terapia ajuda o paciente a identificar essas distorções, confrontar as crenças que as sustentam e desenvolver respostas mais saudáveis. Com isso, o ciúme deixa de ser um monstro incontrolável para se tornar algo possível de compreender, nomear e transformar.

Como a combinação de TCC com EMDR e Brainspotting pode ajudar?

Em casos em que o ciúme está ligado a traumas antigos ou vínculos afetivos disfuncionais, a combinação da TCC com técnicas como EMDR e Brainspotting é extremamente potente. Essas abordagens permitem acessar memórias emocionais profundas, não acessíveis apenas pela fala, promovendo um reprocessamento neural que traz alívio e clareza.

Segundo estudos recentes em neurociência afetiva, o uso conjunto dessas técnicas facilita a regulação emocional e melhora a autopercepção, diminuindo o impulso reativo frente ao ciúme. Ou seja, a pessoa aprende não só a controlar, mas a entender a raiz de sua dor.

É possível amar sem sentir ciúmes?

Sim. É possível amar com segurança, confiança e liberdade. Isso não significa que o ciúme nunca irá aparecer — ele pode surgir, afinal somos humanos. Mas significa que ele não precisa dominar as relações. O amor não precisa da dor para provar que existe.

Em síntese, o amor maduro se baseia em confiança mútua, diálogo e respeito à individualidade. Ele não sufoca. Não vigia. Nem exige exclusividade emocional à força. Ele permite que cada um seja inteiro, sem ameaças veladas.

Qual a maior lição que o ciúme pode nos ensinar?

A maior lição que o ciúme pode nos ensinar é sobre nós mesmos. Em vez de apenas apontar para o outro, ele nos convida a olhar para dentro — para nossas inseguranças, nossos medos e nossas carências não resolvidas.

Definitivamente, aprender a lidar com o ciúme é um passo de maturidade emocional. É sair do piloto automático, romper com narrativas antigas e construir relações mais saudáveis, onde o afeto é livre e o vínculo é verdadeiro.

Porque amar não é prender. É confiar, compartilhar e crescer junto.

Sou Betila Lima – Psicóloga

Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.

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