A dor não é um obstáculo à cura. Ela é o caminho – e, embora pareça contraditório, essa é uma das verdades mais poderosas do processo de transformação humana. Fugir da dor pode parecer instintivo, mas encará-la com coragem e presença é o que realmente permite a cura acontecer de forma profunda e duradoura.

Por que temos tanto medo da dor?
Primeiramente, o ser humano foi condicionado a evitar o sofrimento. Desde cedo, aprendemos que dor é sinal de fraqueza, que ela deve ser silenciada, disfarçada ou ignorada. No entanto, essa tentativa constante de evitar o incômodo emocional acaba prolongando o sofrimento.
Em outras palavras, ao recusar a dor, também negamos a oportunidade de entender o que ela está tentando nos mostrar. Afinal, toda dor carrega uma mensagem – seja ela de perda, excesso, limite ultrapassado ou ausência de conexão.
Além disso, a cultura da positividade tóxica alimenta a ideia de que sentir tristeza ou angústia é errado. Como resultado, muitas pessoas se envergonham de suas emoções mais profundas e passam a se desconectar de si mesmas.
Como a dor pode ser uma aliada no processo de cura?
Apesar disso, a dor tem um papel fundamental no processo de cura. Ela funciona como um alarme do corpo e da alma, avisando que algo precisa de atenção. Ou seja, ignorar a dor é como desligar o alarme sem apagar o incêndio.
Logo, quando decidimos acolher a dor em vez de rejeitá-la, damos o primeiro passo rumo à compreensão do que precisa ser curado. É nesse mergulho sincero nas emoções que começamos a reconstruir partes de nós que estavam feridas, abafadas ou esquecidas.
Do mesmo modo, a dor revela verdades que o conforto esconde. Ela expõe vulnerabilidades, mas também mostra onde está a força adormecida.
O que acontece quando fugimos da dor?
A princípio, fugir da dor pode parecer uma estratégia eficiente. Distrações, trabalho excessivo, relações vazias e até vícios são, muitas vezes, tentativas de anestesiar o que está doendo por dentro. Entretanto, o que não é resolvido, se repete.
Como resultado, a dor reprimida se manifesta de outras formas: ansiedade, irritabilidade, insônia, adoecimento físico, bloqueios emocionais. E, em certos casos, essa dor acumulada se transforma em um vazio difícil de nomear, mas fácil de sentir.
Portanto, ao evitar a dor, não escapamos dela – apenas a adiamos.
É possível crescer emocionalmente por meio da dor?
Definitivamente, sim. Muitos dos maiores processos de crescimento humano surgem justamente de momentos de dor intensa. Analogamente, é como uma semente que, antes de florescer, precisa romper sua casca na escuridão da terra.
A dor nos obriga a parar, refletir, mudar. Ela rasga o que estava estagnado e convida à reinvenção. Isso não significa que o sofrimento é desejável, mas sim que, já que ele existe, pode ser transformado em aprendizado, resiliência e compaixão.
Consequentemente, quem passa pela dor com presença e acolhimento tende a se tornar mais empático, mais profundo e mais consciente de si.
Como acolher a dor sem se afundar nela?
Antes de tudo, acolher a dor não é o mesmo que se entregar ao sofrimento. Trata-se de permitir que ela exista, que seja ouvida, sentida e compreendida – mas sem se identificar completamente com ela.
Assim também, é importante buscar equilíbrio: permitir-se sentir, mas também se apoiar. Isso pode acontecer por meio da terapia, do contato com pessoas seguras, da escrita, da arte ou de práticas que promovam presença, como meditação e respiração consciente.
Além disso, é essencial lembrar: a dor não dura para sempre. Ela vem em ondas, e quando respeitada, tende a se transformar com o tempo.
Qual é a diferença entre dor e sofrimento contínuo?
Enquanto a dor é inevitável, o sofrimento contínuo é frequentemente alimentado pela resistência à própria dor. Ou seja, quanto mais resistimos ao que sentimos, mais o sofrimento se prolonga.
Por outro lado, quando aceitamos que sentir dor faz parte da vida, abrimos espaço para que ela cumpra seu papel e depois siga seu curso. Assim, a dor se torna caminho, não prisão.
Em contrapartida, o sofrimento nasce da rigidez, do controle excessivo, da negação. Já a cura nasce da entrega, da escuta e da aceitação.
Por que é importante dar nome à dor?
Dar nome à dor é um ato de coragem. Frequentemente, nomear o que se sente é o primeiro passo para sair da confusão emocional. Dizer “estou triste”, “me sinto rejeitado”, “estou exausta” é mais libertador do que parece.
Em outras palavras, nomear é iluminar. E aquilo que é iluminado pode ser transformado. Ao trazer a dor para o consciente, deixamos de ser reféns do que não entendemos.
Além disso, ao verbalizar nossas dores, abrimos espaço para o cuidado – próprio e também vindo do outro.
Concluindo,
Por fim, é fundamental entender que a dor não é um obstáculo à cura. Ela é o caminho. Recusá-la é interromper o fluxo natural de cura. Aceitá-la é permitir que o processo siga, mesmo que aos poucos, mesmo que com lágrimas.
Ou seja, sentir dói – mas negar o sentir dói muito mais. Acolher sua dor com compaixão é um ato revolucionário em um mundo que insiste em ignorar a profundidade das emoções.
Portanto, quando a dor bater à porta, não a trate como inimiga. Escute-a. Cuide dela. E caminhe com ela. Porque, muitas vezes, é justamente no momento mais escuro que o renascimento começa.
Sou Betila Lima – Psicóloga
Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.
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