Seu cérebro já não percebe a diferença entre respirar e acessar o celular – e, infelizmente, isso não é exagero. Estudos apontam que o uso repetitivo e inconsciente do celular já ativou no cérebro as mesmas áreas responsáveis por ações automáticas, como respirar, piscar ou levantar da cama. Em outras palavras, desbloquear a tela e deslizar o dedo virou um reflexo. Não uma escolha.

Quando o uso do celular deixa de ser escolha e se torna reflexo?
Antes de tudo, vale observar como você começa o dia: acorda, respira, pisca… e, imediatamente, checa o celular. Sem pensar. Sem questionar. Ou seja, o movimento já está automatizado, como uma função vital.
De acordo com estudos científicos, especialmente os conduzidos por Divan et al. (2008), o uso impulsivo do celular, principalmente entre crianças e adolescentes, ativa circuitos cerebrais que deveriam estar reservados a comportamentos reflexos e fisiológicos.
Consequentemente, o que deveria ser uma ferramenta se transforma em uma extensão do corpo. O problema? Ela passa a ocupar espaços de atenção, foco e até de descanso. E isso tem implicações graves para a saúde mental e cognitiva.
Quais são os impactos dessa automatização digital?
Ainda mais preocupante é que, ao se tornar automático, o uso do celular deixa de ser uma decisão consciente. Com isso, o cérebro entra em modo de piloto automático, o que aumenta os níveis de distração, reduz o desempenho cognitivo, interfere no sono e prejudica a memória de curto prazo.
Além disso, pesquisas mostram que o uso noturno do celular por adolescentes está diretamente ligado ao aumento da sonolência diurna, à piora no humor e à queda no rendimento escolar. Ou seja, o hábito, aparentemente inofensivo, corrói lentamente funções mentais essenciais.
Em outras palavras, quanto mais inconsciente é o uso do celular, maiores são os danos acumulados. E, por ironia, menos percebemos o quanto estamos sendo afetados.
O que acontece com o cérebro quando deixamos de questionar o hábito?
A princípio, cada ação repetida muitas vezes se consolida no cérebro como um padrão automático. Isso significa que, ao desbloquear a tela constantemente, sem propósito claro, o cérebro entende que esse comportamento deve ser reproduzido de forma rápida e sem reflexão.
Logo depois, a repetição reforça o circuito. Como resultado, o hábito se consolida e passa a disputar espaço com tarefas cognitivas mais complexas, como ler, se concentrar, manter conversas profundas ou até relaxar verdadeiramente.
Por isso, quando não questionamos o porquê de estarmos pegando o celular, passamos a fazê-lo sem qualquer critério. E essa ausência de intenção abre caminho para ansiedade, estresse e até episódios de dissociação da realidade.
Como o uso automático do celular afeta o senso de presença?
Do mesmo modo que o cérebro aprende a automatizar funções para economizar energia, ele também pode se desconectar do momento presente. Assim, o celular se torna um “escape imediato” para qualquer sensação de tédio, silêncio ou desconforto.
Por exemplo, ao invés de respirar conscientemente ou lidar com uma emoção, muitas pessoas recorrem ao celular como válvula de escape. Isso diminui a tolerância ao silêncio, ao ócio e às pausas naturais da vida.
Além disso, o excesso de estímulo digital rouba a capacidade de presença. Ou seja, mesmo estando fisicamente em um lugar, a mente está fragmentada entre múltiplas notificações, vídeos, mensagens e atualizações.
O celular virou parte do sistema nervoso?
Embora metafórica, essa ideia é respaldada por evidências neurocientíficas. Segundo especialistas, a exposição constante à tela molda comportamentos cerebrais de forma profunda, afetando não apenas hábitos, mas também emoções e funções vitais.
Nesse sentido, o celular começa a competir diretamente com outras funções naturais do organismo. A própria respiração, que deveria ser uma âncora de equilíbrio, passa a ser ignorada em nome da próxima notificação.
Sendo assim, reconhecer esse padrão é o primeiro passo para romper com ele. É preciso lembrar: o celular é ferramenta, não parte do seu sistema nervoso.
Como recuperar o controle do uso?
Antes de mais nada, recupere a consciência. Observe quantas vezes por dia você desbloqueia o celular sem necessidade. Depois, estabeleça limites reais: horários sem tela, ambientes livres de tecnologia (como o quarto) e pausas digitais durante o dia.
Além disso, substitua o gesto automático por ações conscientes. Por exemplo, ao sentir vontade de checar o celular, respire fundo antes. Pergunte-se: “Por que estou fazendo isso agora? Realmente preciso?”. Essa simples reflexão já interrompe o ciclo automático.
Analogamente, é como reconstruir a musculatura do foco: cada pequeno ato de atenção fortalece sua presença.
Concluindo,
Por fim, seu cérebro já não percebe a diferença entre respirar e acessar o celular porque ele foi condicionado a isso. O uso inconsciente da tecnologia deixou de ser uma escolha e passou a ser um reflexo. Mas é possível mudar.
Ou seja, o primeiro passo está na observação. O segundo, na escolha. E o terceiro, na prática diária de substituir a impulsividade pela intenção.
Portanto, pare. Respire. Repare nos seus movimentos. E, pela primeira vez em horas, decida não tocar no celular. Esse pequeno gesto pode ser o início de uma grande reconexão com o que realmente importa: você presente, inteiro, aqui e agora.
Sou Betila Lima – Psicóloga
Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.
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