Comentários sobre a aparência: por que aprender a dizer não

Comentários sobre a aparência: por que aprender a dizer não

Comentários sobre a aparência nem sempre são elogios disfarçados. A princípio, podem parecer inofensivos, curiosos ou até bem-intencionados. Mas, na prática, muitos desses comentários funcionam como pequenas invasões — toques sutis que desrespeitam fronteiras emocionais e causam desconforto silencioso.

Ouvir algo sobre o corpo, o rosto ou o jeito de se vestir, mesmo de pessoas próximas, pode despertar inseguranças profundas. Ainda mais quando esses comentários vêm em tom de brincadeira ou preocupação. Afinal, nem sempre é fácil se posicionar quando o outro não percebe que ultrapassou um limite.

Por que comentários sobre o corpo afetam tanto?

Desde cedo, somos ensinados a nos ver pelos olhos dos outros. Em outras palavras, aprendemos a validar nossa imagem a partir do que o outro aprova ou critica. Isso cria uma relação frágil com o corpo — que deixa de ser casa e vira vitrine.

Nesse sentido, um comentário aparentemente neutro, como “você emagreceu” ou “tá com uma carinha cansada”, pode tocar em feridas antigas. Feridas de comparação, de cobrança estética, de padrões inalcançáveis. Como resultado, mesmo quem se cuida, se ama e se respeita pode se sentir desconectado de si.

Qual o impacto emocional desse tipo de abordagem?

Além do incômodo momentâneo, a repetição de comentários sobre a aparência reforça a ideia de que o corpo está sempre em julgamento. Isso intensifica quadros de ansiedade, baixa autoestima, distorção de imagem e até transtornos alimentares.

Ainda mais grave é quando essas observações vêm de familiares, colegas ou pessoas próximas. Isso porque, nessas relações, o comentário não é apenas sobre aparência — é também sobre valor. Muitas vezes, a mensagem implícita é: “você precisa ser diferente para ser aceito”.

Quando é hora de dizer não?

É hora de dizer não sempre que algo fere. Sempre que uma palavra sobre o seu corpo te desconecta de você mesmo. Sempre que o olhar do outro tenta impor uma narrativa que não é sua.

Aprender a impor limites não é falta de educação — é um ato de amor próprio. É reconhecer que nem tudo precisa ser tolerado, especialmente aquilo que disfarça controle como cuidado, ou julgamento como carinho.

Em outras palavras, colocar limites é também educar o outro sobre como queremos ser tratados. É afirmar, com firmeza e gentileza: “meu corpo não está em debate”.

O que a neuropsicologia revela sobre autoestima, aparência e imagem corporal?

A neuropsicologia mostra que a autoimagem é moldada pelas experiências afetivas, principalmente durante a infância e adolescência. Comentários recorrentes sobre o corpo, mesmo os aparentemente positivos, ativam áreas cerebrais ligadas ao julgamento e à comparação. Isso pode enfraquecer circuitos associados à autoestima e à autoaceitação.

Além disso, estudos indicam que a exposição contínua à crítica estética eleva níveis de cortisol, o hormônio do estresse, gerando impactos reais no bem-estar emocional. Ou seja, a aparência, quando constantemente observada e comentada, deixa de ser neutra — vira fonte de tensão e desconexão.

Como a terapia pode ajudar a fortalecer limites, aparência e autoestima?

A psicoterapia é um caminho potente para reconstruir uma relação mais amorosa com o corpo. A terapia cognitivo-comportamental ajuda a identificar pensamentos automáticos ligados à aparência e reformular crenças que sustentam a insegurança.

Aliada a técnicas como EMDR e Brainspotting, que acessam memórias corporais e emocionais, a terapia pode curar feridas invisíveis deixadas por anos de comentários, comparações e exigências estéticas.

Dessa forma, o sujeito deixa de viver em função do olhar do outro — e começa a habitar o próprio corpo com mais liberdade, presença e dignidade.

A maior lição: seu corpo e sua aparência não precisam de aprovação

Por fim, a maior lição é simples, mas profunda: você não precisa justificar sua aparência. Seu corpo não está aqui para agradar, performar ou atender expectativas externas. Ele está aqui para ser vivido — com prazer, com saúde, com autenticidade.

Portanto, da próxima vez que um comentário invadir seu espaço emocional, lembre-se: você tem o direito de proteger sua paz. Dizer “não” também é uma forma de dizer “sim” para si mesmo.

Sou Betila Lima – Psicóloga

Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.

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